Professor da FGV destaca que enfraquecimento do real frente ao dólar
provoca dificuldades aos clubes brasileiros para manter jogadores
Se há pouco tempo os clubes brasileiros passaram a investir mais nas
contratações de grandes jogadores, e também a segurar algumas jovens
revelações por mais tempo, na última janela de transferências, já
fechada, o "prejuízo" foi grande dentro de campo. Jogadores como Neymar,
Paulinho, Bernard e Wellington Nem partiram rumo ao Velho Continente.
Ao mesmo tempo, o Brasil é o país que mais lucrou nesta janela: 185
milhões de euros, o equivalente a R$ 600 milhões. Em segundo lugar
aparece a Holanda, com 111 milhões de euros (assista ao vídeo).Levando em conta os números das receitas dos clubes com a venda de jogadores, o Brasil aparece na quinta posição, atrás apenas de Espanha, Itália, Rússia e Inglaterra. Segundo o professor de Negócios Internacionais e Comércio Exterior da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Paulo Ferraciolli, ficou mais difícil para os clubes brasileiros resistirem às propostas milionárias, em função do enfraquecimento do real diante das principais moedas estrangeiras.
- É um início de recuperação da economia americana e até mesmo, ainda que mais tênue, da economia europeia. Vai reduzir a oferta de dólares no mercado internacional e, com isso, o dólar tende a ficar mais caro. O real, quando se desvaloriza em relação ao dólar, acaba também se desvalorizando em relação ao euro.
Atacante Neymar foi vendido pelo Santos ao Barcelona por 57 milhões de euros
Nos últimos três anos, pode-se perceber o fortalecimento do euro. Entre
julho e agosto de 2011, cada euro custava R$ 2,20. No mesmo período do
ano passado, chegou a R$ 2,50. Agora, a moeda europeia disparou para R$
3,25, um aumento de quase 30% em relação ao ano anterior.A saída de Neymar do Santos para o Barcelona pode demonstrar a mudança de valores de um ano para o outro. Se o atacante fosse vendido no ano passado, o clube paulista receberia R$ 145 milhões. No entanto, recebeu R$ 160 milhões, já que a venda foi fechada em 57 milhões de euros.
Seedorf, que ganha em Real, teria menos para
gastar hoje na Holanda (Foto: Vitor Silva/SSPress)
- O clube recebe muito mais reais. Você imagina um clube que fosse
fazer uma negociação com o euro a R$ 2,20 e fosse receber uma certa
quantidade de euros. Com o euro agora a R$ 3,15, ele recebe muito mais
reais, que permite contratar outros jogadores "brasileiros" - ressalta
Ferraciolli.gastar hoje na Holanda (Foto: Vitor Silva/SSPress)
Mas esse cenário pode mudar em julho de 2014. Entrará em vigor nesta data a Lei do Fair Play Financeiro na Europa. Os clubes não poderão gastar mais do que arrecadaram na temporada anterior, o que deve obrigar a redução dos valores das transferências. Ao mesmo tempo, há o risco de se criarem brechas para não haver de fato a limitação.
Ao mesmo tempo, o caminho da Europa para o Brasil também ficará mais difícil. A chegada de nomes como Seedorf, jogador do Botafogo, e Forlán, do Internacional, deve ser cada vez mais rara.
- A importação de jogadores fica mais difícil porque eles ficam mais caros quando vêm para o Brasil. Pensando no Seedorf, imaginando que um dia ele pode querer voltar a morar na Holanda, o salário dele, em reais, significa menos euros para gastar lá - conclui Paulo Ferraciolli.
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